segunda-feira, 24 de maio de 2010

Cemitério

A sala está vazia. As fotografias estão como dantes. As pessoas morreram e agora são papel. Os mortos não resistem a não ser nos retratos. E as recordações e o amor enterram-se, são a areia que cobre o caixão ainda quente daquele corpo que carrega.
As fotografias deviam queimar-se, a música também, esses veículos de tristeza fúnebre de que a cabeça é o destino.
Porque o que faz doer a quem cá fica não é merda de coração nenhum. O coração é apenas o órgão do sangue. Não é o coração que ama. É a cabeça, essa puta que mantém o morto agarrado à memória que não se esquece.
Eu não tenho memórias, há muito que desisti de pensar.
De mim, hoje, só restam mortos. Mortos e fotografias.
A solidão.

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