domingo, 28 de fevereiro de 2010

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Actualização da origem.


Levi van Veluw


«If you're ever around
In the backstreets or the alleys.. of this town
Make sure to come around
I'll be wallowing in pity
Wearing a frown
Like Pierrot the Clown»
Pierrot the clown, Placebo

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


Acho que vou dar em doida.

Uma ideia de fragmentação


Santa-Rita Pintor

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ia agora deitar-me quando me lembrei que ainda não tinha escrito nada aqui hoje mas que também nada tinha para contar. Enquando arrumava e nao arrumava tralhas por aqui, pus-me a pensar no que de mais importante aconteceu no meu dia de hoje.
Pois bem: O MEU CHAPÉU DE CHUVA PARTIU-SE!
Valha-me Deus com o tempo que tem estado... A minha vida agora é esperar por momentos desaguados para poder andar na rua sem chegar ao destino feita esponja.

Além disto, vou escrever uma ideia que hoje conheci e que me deixa dizer: Agora sim, tudo faz sentido:

«... uma literatura predominantemente feminina que se diz "pop-literatura" e que se baseia na convicção assumida de que para escrever um romance basta ter uma ideia da vida e não uma ideia de literatura.» (Eduardo Prado Coelho)

Eu realmente nunca tinha encontrado uma explicação tão óbvia para este fenómeno literário. O óbvio é o mais difícil de encontrar.
As perguntas (retóricas, porque ninguém lê estas merdas) são:
Literatura é Arte? Sim.
A Arte baseia-se na vida? Se sim, então esses romances de vida são Arte.
[Ou será a vida que se baseia na Arte?]
- Não será a verdadeira literatura (e o calcanhar de Aquiles dessas feminae) escrever a vida com um profundo gosto literário e estético, e por consequência, pela Arte?

Dei o nó.


«O supremo vício é a vulgaridade.»
Oscar Wilde

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Enciclopédia Universal II

Numa aula de Linguística Espanhola com a Gayoso das 20 às 22 horas, uma pessoa tem realmente que aliviar a pressão depois de todo um dia que começou às 9 da manhã e que implicou subir as Monumentais 4 vezes.
Por supuesto.
Estava eu numa maravilhosa intervenção acerca das obrigações de um linguista, quando, para a Senhora Professora do Dom da Oratória, disse:
- Eres normal.
E ela (parece que a estou a ver):
- Yo soy, ?y tú?
E eu, envergonhadamente, corrigi:
- Es normal.

Caeiro, o egoistazinho

( [...]
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu - não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)

XXXII, Alberto Caeiro

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

'A cena do Ódio'

«Jamais eu quereria vir a ser um dia
o que o maior de todos já o tivesse sido
eu quero sempre muito mais
e mais ainda muito pr'além-demais-Infinito...
Tu não sabes, meu bruto, que nós vivemos tão pouco
que ficamos sempre a meio-caminho do Desejo?»

Almada Negreiros

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Esta semana fui jantar a casa da Joana e acho que foi por causa das moelas que me lembrei daquilo que neste post vou contar.
Voltas que dei ou que não dei, o que é certo é que dei por mim a pensar na morcela de que não gosto. Sempre que na minha casa a refeição mete enchidos (sem ser chouriço, fon fon fon fon) eu nunca como nada disso. E a minha mãe, sempre muito esmagadora, para mim:
- Só gostas de morcela quando há pouca.

Moral da história: vamos concordar com o Oscar quando ele, génio, conclui:
- 'Há muitas coisas que nós atiraríamos fora, se não fosse o medo de que os outros as apanhassem.'

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

«Ó Mila, mil e uma noites de amor com você.»

Primeiro, claro, o alcance fónico de 'Mila' e 'mil' é qualquer coisa que literariamente não pode ser negligenciada. Que conjugação sensacional de sons. Ninguém me tira da cabeça que o autor da bonita letra estava a pensar em leite quando escreveu este verso. Mil(k)... Extraordinária esta minha intuição. Depois claro, daqui só me vem à ideia que o homem apaixonado era um bicho garanhão: MIL E UMA NOITES DE AMOR? mas quê, sem parar? Assim zumba zumba zumba?... FUCK'IN NIGHT, Netinho. E por falar nisso, se é netinho parece que é novo, nem que seja só aos olhos da avó... Como é, não tens vergonha de cantar isso, sujeito ao desgosto da família?
Mila, tu não vais aguentar.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Admirável Mundo Novo

Hoje começaram as aulas do segundo semestre e era mesmo disto que estava a precisar.
Depois de um mês inteiro a engonhar com o sexo em Camões, há coisas que só se resolvem com horários.
Já não tremo como no primeiro dia da primária, também já não reencontro os meus namorados todos futebolistas, nem escrevo cartas de amor manhosas com quadradinhos de Sim, Não ou Talvez.
Mas de qualquer maneira há coisas que só se resolvem com horários.

Hoje saíram os resultados dos programas de Erasmus e vou para Salamanca.
Depois de um mês inteiro a mentalizar-me que ia para Madrid e a desejar com a ideia, soube que afinal iria ficar tão perto.
Já não temo andar sozinha pelas ruas da capital, também já não tenho medo da saudade.
Porque soube que
- Afinal vou ficar demasiado perto.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O meu amor tem um jeito manso que é só seu


http://http//www.youtube.com/watch?v=txLPlvkGiP4

do what you gotta do

Este tratamento a que vou estar submetida durante seis meses da minha vida
- Vai secar-lhe muito a pele, não pode apanhar sol e não pode engravidar no espaço de um ano
- E beber, Senhor Doutor?
- Beber como? Não pode ser todos os dias desenfreadamente mas um fino ou dois de vez em quando não há problema.
Não há problema diz ele. Estes comprimidinhos secam-me tudo: por dentro e por fora.
O nariz como exemplo.
Uma sinédoque fraquinha.
Se fosse escritora era diferente.
Inês não serve para nome. Não tem carisma.
A Inês não se veste para arrasar.
Eu. Ego.
Tu. Alter ego.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

É Carnaval. E eu passo o ano inteiro à espera desta altura para não parecer ridículo ouvir isto:

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Um homem quer-se astuto

Já me tinha esquecido do problema da falta de imaginação. Mas como estou cheia de sono e farta de escrever, vou só acrescentar esta frase de Pater para mandar achas para a fogueira:
«O erro é criar hábitos».



É de dia outra vez. Talvez o dia mais importante de todo o calendário. É extraordinário o poder que um 14 de Fevereiro pode ter nas nossas vidas. Eu acho que só é comparável a um médico de doentes em fase terminal. A quantidade de relações que na data presente, ano a após ano, são salvas pelo Senhor Valentim... Eu não sei, mas desde floristas, a perfumarias e tantas mais lojas de conveniência feminina, ou melhor, masculina (porque é a eles que hoje lhes convém que existam), há um wonderful world para descobrir.
- O resto do ano, bebé, escusas de te preocupar comigo. Eu sei que o tempo não chega para tudo e chegares a casa sem me dar um beijo não interessa para nada. Mas hoje, pelo menos hoje, homem de deus, leva-me a dar uma voltinha ao jardim zoológico, MONKEY MAN.
A mulher ouve o que quer ouvir, o homem sente-se mais romântico do que o Júlio Iglesias e o melhor é que à noite, se chegar até lá, a mulherzinha de pernas abertas vai gemer:
- Amo-te.
enquanto ele pensa:
- Se for preciso compro-te flores todos os dias, minha riqueza.
ABRE-TE SÉSAMO.

O minuto certo

Dizia-te do minuto certo. Do minuto certo do amor. Dizia-te que queria olhar para os teus olhos e ter a certeza que pensavas em mim. Que me pensavas por dentro. Que eu era a tua fantasia, o teu banco de trás. O teu desconforto de calças caídas, de pernas caídas, da rua que não estava fechada porque nenhuma rua se fecha para o amor.
Na cidade do meu sono, havia palmeiras onde alguns repetiam charros e putas e atiravam pedras ao rio. Mas eu nunca gostei de clichés. Nem de quartos de hotel. Nem de camas que não conheço. Eu nunca abri as pernas, entendes? Nunca abri as pernas no liceu. Nunca abri as pernas aos dezassete anos, de cigarro na mão. Eu nunca me comovi com o sonho de ser tua. Eu nunca quis que ficasses, entendes? Que viesses. Queria que quisesses de mim esse minuto certo, essa rua húmida de ser norte. Queria que me quisesses certa, exacta, como o minuto onde me pudesses encontrar. Eu nunca quis de ti uma continuidade, mas um alívio, uma noção de ser gente, entendes? Eu nunca quis de ti o sonho do sono ou da viagem. Nunca te pedi o pequeno-almoço, a ternura. Nunca te disse que me abraçasses por trás, que adormecesses. Eu nunca quis que me desses casa e filhos e lógica. Que me convidasses para dançar. Queria os teus olhos a fecharem-se comigo por dentro e tu por dentro de mim.
Queria de ti um minuto. Um minuto.

Filipa Leal
É verdade que leio muito menos do que devia... Ainda por cima requisitei agora um livro que já tinha lido no Verão. Mas é que mudou tanta coisa depois disto:



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Podíamos jogar ao preferias.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

«Se fazer o exame fosse pinar, eu sabia tudo»

Grande momento, morsarum thesaurus

Enciclopédia fundamental 1


O meu xixi anda muito concentrado.
E o cocó também.

Pontos Negros

«Ela achava o levantar do dedo mindinho algo deselegante»

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Era muito mais fácil viver no intermédio
com uma casa e um marido, numa ponte de tédio.
Sorte gigante de adamastor revoltado
foi a minha
de não te encontrar nunca do meu lado.

«Agarra em mim.»


terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

eu não sou como os outros
eu sou como eu
e é mais do que suficiente
para entreter alguém

Bénédicte Houart
a puta que me pariu era a mais linda da rua formosa
eu saí a ela deve ser por isso que mal sorrio os homens
perguntam
quanto é
e eu não é nada a puta que me pariu pôs-me a estudar e
eu agora
só sorrio e é tudo de graça
e a seguir mostro-lhes o rabo e a seguir as pernas e
ponho-me a andar
deixo-os de corpo a abarrotar
de tralha

Reconhecimento, Bénédicte Houart

Paula Rego

Para o meu amante de regresso à sua mulher

Ela é tão nua e singular.
Ela é a soma de ti e do teu sonho.

Escala-a como um monumento, passo a passo.
Ela é sólida.

Quanto a mim, sou uma aguarela.
Diluo-me.


Ann Sexton

Não me importa nada

«Eu, pelo menos, sou incapaz de compreender a sedução de uma mulher pedestre, e por mais empenho que ponha em concebê-lo, não me é possível nem tão pouco imaginar que possa fazer-se amor sem ser voando.»

Oliverio Girondo

Jacinta


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

reclamação e aviso

Todo o dia o meu corpo adormeceu.
Primeiro foi um braço que deixou cair o garfo, ou a faca.
Depois senti uma perna cheia de agulhas lá dentro.
[...]
Agora, que já é noite, vou deitar-te na minha cama porque todo o meu corpo já dormiu.



«O Amor dá-me tesão. »




Eric Fischl

Pai, quero um aquário com peixes vermelhos

Chega-te mais. Sei que parece
não caber um grão entre nós
e o calor que me dás cura-me
de muitos males. Mas a tua pele
é também um escudo impenetrável
e os teus ouvidos estão voltados
para dentro, mas não ouves
as mensagens que te atravessam,
não escutas nenhum de nós.
Não sei por que estamos aqui
colados um ao outro. É verdade
que está frio, um frio que se repete
todos os dias como se fôssemos peixes
de aquário e se tivessem esquecido
de mudar a água. Andamos às voltas
no vidro redondo, vamos ficando míopes
e sujando a água. Estamos juntos
e juntos damos a volta ao circo.
Há uns quantos que nos aplaudem,
mas acho que têm tanto medo como nós.

Da alma e dos espíritos animais,
Rosa Alice Branco

Mário Bismarck

Verbo haver

(eu) hei
(tu) hás
(ele) há
(nós) havemos
(vós) haveis
(eles) hão


«Devemos fazer tudo o mais simplesmente possível mas
não mais simplesmente do que isso»
Einstein

Cratera do Início

«Bastava um dia
para construíres o mundo,
mas saíste da costela do homem
e a seu lado sempre te afundas.»

A raiz afectuosa, António Osório

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Banda desdenhada

- Apetece-me borratar um bocado tudo isto. «As mulheres têm fios desligados» foi o Lobo Antunes que escreveu.
- Nem percebo, Inês.
- É que já tinha esta frase entalada há muito tempo, uma tormenta que queria usá-la e não sabia como.
- E agora, estás melhor?
- Acho que sim, mas tenho ainda outras.
- Tormentas ou frases?
- «Uma feridinha de cacaracá».

7

Casou este esfaimado com uma velha rica:
e a mulher o sustenta, para que ele a fornique.

Marcial, séc. I-II

[Das Mulheres]

São pior's do que eu possa dizer:
no buraco só querem meter
quem capaz se mostrar de as encher.
Não se 'scute por Deus nenhum rogo
dos que queiram honrar e servir
essas putas de peitos em fogo!

Marcabru, séc. XII

Pedro, lembrando Inês

Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?" Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passamos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

Pedro, lembrando Inês, Nuno Júdice



«Putas somos todas:
umas por dinheiro,
outras por amor.»

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O amadurecimento do trigo.


de profundis amamus

Ontem
às onze
fumaste um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria

Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros

Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso

Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso

Pena Capital, Mário Cesariny