sábado, 23 de outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Enjambements
poucas mulheres havia visto
havia visto sua mãe, sua avó também
um dia comprou um carrocel
e encontrou logo
mil mulheres
um bordel
embaladas
borratadas
atordoadas
músicas encavalitadas
todas elas de baixo para cima
de cima para baixo
lhe haviam prometido humidade
e chegou um dia
(como uma delas dizia)
em que o coitado já tonto
pedia pedia pedia
uma moedinha:
queria voltar para a saia do miminho.
havia visto sua mãe, sua avó também
um dia comprou um carrocel
e encontrou logo
mil mulheres
um bordel
embaladas
borratadas
atordoadas
músicas encavalitadas
todas elas de baixo para cima
de cima para baixo
lhe haviam prometido humidade
e chegou um dia
(como uma delas dizia)
em que o coitado já tonto
pedia pedia pedia
uma moedinha:
queria voltar para a saia do miminho.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Manhã fria e seca
Quando saí de casa
atravessando a rua enorme
vi
o colapso dos tempos modernos:
dois pássaros, Natureza do tempo todo,
a namorarem beijando uma goma vermelha que imitava mal um coração.
Talvez estejam enganados - pensei eu, ´
enganada.
Só na poesia os animais cantores ainda perdem tempo com corações de homens.
Quando saí de casa
atravessando a rua enorme
vi
o colapso dos tempos modernos:
dois pássaros, Natureza do tempo todo,
a namorarem beijando uma goma vermelha que imitava mal um coração.
Talvez estejam enganados - pensei eu, ´
enganada.
Só na poesia os animais cantores ainda perdem tempo com corações de homens.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
não me dês o que eu já tenho
eu não gosto de poesia previsível.
(e se algum dos meus numerosos leitores revoltar estas palavras para aquilo que escrevo,
agora mesmo eu me defendo, dizendo que
- Não espereis de mim poesia.)
(e se algum dos meus numerosos leitores revoltar estas palavras para aquilo que escrevo,
agora mesmo eu me defendo, dizendo que
- Não espereis de mim poesia.)
terça-feira, 25 de maio de 2010
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Cemitério
A sala está vazia. As fotografias estão como dantes. As pessoas morreram e agora são papel. Os mortos não resistem a não ser nos retratos. E as recordações e o amor enterram-se, são a areia que cobre o caixão ainda quente daquele corpo que carrega.
As fotografias deviam queimar-se, a música também, esses veículos de tristeza fúnebre de que a cabeça é o destino.
Porque o que faz doer a quem cá fica não é merda de coração nenhum. O coração é apenas o órgão do sangue. Não é o coração que ama. É a cabeça, essa puta que mantém o morto agarrado à memória que não se esquece.
Eu não tenho memórias, há muito que desisti de pensar.
De mim, hoje, só restam mortos. Mortos e fotografias.
A solidão.
As fotografias deviam queimar-se, a música também, esses veículos de tristeza fúnebre de que a cabeça é o destino.
Porque o que faz doer a quem cá fica não é merda de coração nenhum. O coração é apenas o órgão do sangue. Não é o coração que ama. É a cabeça, essa puta que mantém o morto agarrado à memória que não se esquece.
Eu não tenho memórias, há muito que desisti de pensar.
De mim, hoje, só restam mortos. Mortos e fotografias.
A solidão.
Pra o alto
«Qual o melhor modo de subir a este monte?»
Sobe sempre, e não penses nisso.
Poemas, F. Nietzsche
Sobe sempre, e não penses nisso.
Poemas, F. Nietzsche
domingo, 18 de abril de 2010
Lembra-te
Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos
Mário Cesariny
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos
Mário Cesariny
sexta-feira, 16 de abril de 2010
exílio forçado
água quente. morna. tépida e suja. dorida e gasta. tantas vezes posta numa roupa que era minha. dorme dorme meu menino, que logo logo vem o céu, venha antes e não logo que a água suja e quente que passa, agora mesmo apodreceu.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
quarta-feira, 31 de março de 2010
quarta-feira, 17 de março de 2010
Gramática.
Pinta-me o corpo com essas tintas primárias com que constróis as tuas telas. Podias desenhar-me mapas escondidos, caminhos complicados e utilizar os sinais da nossa linguagem.Assim, sempre que te perdesses saberias como voltar e aqueles que me encontrassem sentir-se-iam confusos a permanecer.
sexta-feira, 12 de março de 2010
post blue
chega-me o teu sangue vermelho húmido
e concorda com aquilo que nos disseram acerca dos abat-jours.
deixemos de vez as previsões para ontem.
e concorda com aquilo que nos disseram acerca dos abat-jours.
deixemos de vez as previsões para ontem.
quinta-feira, 11 de março de 2010
resiliência
Quando me deito à noite e não consigo adormecer, o que faço é muito simples:
Penso em coisas muito fixamente e de manhã, quando acordo, o que sei é que acabo por sonhar com elas.
Dantes, imaginava astronomias várias e fazia cocktails com os trabalhos da escola.
Agora é um bocadinho diferente, não sei se é por chegar à cama sempre cheia de sono ou quê, mas a verdade é que não me lembro em que é que fixo o meu pensamento,
a única coisa que sei é que de manhã, quando acordo,
os meus sonhos eram teus.
Penso em coisas muito fixamente e de manhã, quando acordo, o que sei é que acabo por sonhar com elas.
Dantes, imaginava astronomias várias e fazia cocktails com os trabalhos da escola.
Agora é um bocadinho diferente, não sei se é por chegar à cama sempre cheia de sono ou quê, mas a verdade é que não me lembro em que é que fixo o meu pensamento,
a única coisa que sei é que de manhã, quando acordo,
os meus sonhos eram teus.
terça-feira, 9 de março de 2010
Há pessoas que não deviam poder mexer em cera ou Sou pior que as crianças
Sempre tive muito jeito para me fazer o buço a mim própria. Mas hoje foi mesmo o meu dia mais inspirado, só faltou pegar fogo à minha cara porque, realmente, queimada a pele ficou.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Leitora, não cole aqui a sua fotografia.
Hoje a citação do metro:
«Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no Mundo teve início de outra maneira».
A frase é de Monteiro Lobato, escritor que desconhecia até há pouco. Parece que foi um senhor brasileiro que nasceu em 1882, que morreu em 1948 e que escrevia coisas para crianças. O picapau amarelo é dele.
Enquanto comecei a escrever isto lembrei-me de que hoje é o dia internacional da mulher e de que devia mandar umas ideias sobre isso. Mas não me apetece. Hoje o dia é do Monteiro Lobato porque eu acho que a frase dele tem tudo lá dentro:
Eu não acredito, mas dá jeito agora dizer que se a mulher nasceu mesmo da costela do Adão, então nós somos sonhos dos homens. Já os homens, se nasceram da loucura de Deus, então parece que o Senhor é máric.
Pronto já estou a piorar. Razão tem a Ronkie:
'Nunca evites um peido, depois ele sobe pela espinal medula e só tens pensamentos de merda'.
domingo, 7 de março de 2010
Demolition Lovers
Há uns anos, quase mesmo 6
tanto tempo
era um banco e dois ali
dois que seríamos nós acho eu
sabias disto assim tão certo?
Acho que é a coisa mais foleira que tenho escrita aqui no blog. Mas temos pena, o próprio passado é sempre um sítio foleiro... Experimenta a olhar para as fotografias e diz-me lá se vais gostar de ti. Não é que tivesse sido tudo mal mas se calhar foi mesmo, eu nunca consegui explicar muitas coisas. Entre mim e ti houve uma relação que nunca foi relação porque foi sempre muito mais que isso. E estou a escrever isto porque me apetece, talvez porque ontem fui a um casamento. Mas nós não vamos casar, claro que não porque já não há amor. Mas se me puser a pensar acho que nos chegámos a casar umas cem mil vezes há seis anos. Estou tão foleira. Porque isto não se percebe e nem estou preocupada com que se perceba,
eu nunca percebi.
Mas num prédio num dia destes, talvez daqui a seis anos, numa dessas ruas seja lá onde for eu vou bater à tua porta:
- Desculpa, tens aí uma cebola que me possas dar?
e tu
- Não queres jantar cá?
tanto tempo
era um banco e dois ali
dois que seríamos nós acho eu
sabias disto assim tão certo?
Acho que é a coisa mais foleira que tenho escrita aqui no blog. Mas temos pena, o próprio passado é sempre um sítio foleiro... Experimenta a olhar para as fotografias e diz-me lá se vais gostar de ti. Não é que tivesse sido tudo mal mas se calhar foi mesmo, eu nunca consegui explicar muitas coisas. Entre mim e ti houve uma relação que nunca foi relação porque foi sempre muito mais que isso. E estou a escrever isto porque me apetece, talvez porque ontem fui a um casamento. Mas nós não vamos casar, claro que não porque já não há amor. Mas se me puser a pensar acho que nos chegámos a casar umas cem mil vezes há seis anos. Estou tão foleira. Porque isto não se percebe e nem estou preocupada com que se perceba,
eu nunca percebi.
Mas num prédio num dia destes, talvez daqui a seis anos, numa dessas ruas seja lá onde for eu vou bater à tua porta:
- Desculpa, tens aí uma cebola que me possas dar?
e tu
- Não queres jantar cá?
sexta-feira, 5 de março de 2010
A agonia ou a ignota alienação
Seja o que for é alguma coisa que não me pertence e que não se identifica comigo.
Eu nunca fui assim.
Nunca me senti assim.
E é isto pior por não saber a explicação.
Eu nunca fui assim.
Nunca me senti assim.
E é isto pior por não saber a explicação.
terça-feira, 2 de março de 2010
segunda-feira, 1 de março de 2010
o furta flores
É o João Coração.
Hoje disse-me ao ouvido que não havia tempo para amar.
É um ladrão.
É um bandido.
Eu acho é que não há paciência, tempo arranja-se sempre.
Agora paciência
...
...
...
...
...
Esquisita, sabes?
Paciência se calhar também se arranja
É preciso é encontrar um que não seja
Ladrão
ou
Bandido
Não quero um João Coração.
Mas gosto de barba.
Para me arranhar a cara.
Mas só isso.
Porque este João arranha o Coração.
Furta-flores.
Furta-amores.
Pffff...
Não há tempo.
Não há paciência.
Não há,
barba.
Hoje disse-me ao ouvido que não havia tempo para amar.
É um ladrão.
É um bandido.
Eu acho é que não há paciência, tempo arranja-se sempre.
Agora paciência
...
...
...
...
...
Esquisita, sabes?
Paciência se calhar também se arranja
É preciso é encontrar um que não seja
Ladrão
ou
Bandido
Não quero um João Coração.
Mas gosto de barba.
Para me arranhar a cara.
Mas só isso.
Porque este João arranha o Coração.
Furta-flores.
Furta-amores.
Pffff...
Não há tempo.
Não há paciência.
Não há,
barba.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
sábado, 27 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Ia agora deitar-me quando me lembrei que ainda não tinha escrito nada aqui hoje mas que também nada tinha para contar. Enquando arrumava e nao arrumava tralhas por aqui, pus-me a pensar no que de mais importante aconteceu no meu dia de hoje.
Pois bem: O MEU CHAPÉU DE CHUVA PARTIU-SE!
Valha-me Deus com o tempo que tem estado... A minha vida agora é esperar por momentos desaguados para poder andar na rua sem chegar ao destino feita esponja.
Além disto, vou escrever uma ideia que hoje conheci e que me deixa dizer: Agora sim, tudo faz sentido:
«... uma literatura predominantemente feminina que se diz "pop-literatura" e que se baseia na convicção assumida de que para escrever um romance basta ter uma ideia da vida e não uma ideia de literatura.» (Eduardo Prado Coelho)
Eu realmente nunca tinha encontrado uma explicação tão óbvia para este fenómeno literário. O óbvio é o mais difícil de encontrar.
As perguntas (retóricas, porque ninguém lê estas merdas) são:
Literatura é Arte? Sim.
A Arte baseia-se na vida? Se sim, então esses romances de vida são Arte.
[Ou será a vida que se baseia na Arte?]
- Não será a verdadeira literatura (e o calcanhar de Aquiles dessas feminae) escrever a vida com um profundo gosto literário e estético, e por consequência, pela Arte?
Dei o nó.
«O supremo vício é a vulgaridade.»
Oscar Wilde
Pois bem: O MEU CHAPÉU DE CHUVA PARTIU-SE!
Valha-me Deus com o tempo que tem estado... A minha vida agora é esperar por momentos desaguados para poder andar na rua sem chegar ao destino feita esponja.
Além disto, vou escrever uma ideia que hoje conheci e que me deixa dizer: Agora sim, tudo faz sentido:
«... uma literatura predominantemente feminina que se diz "pop-literatura" e que se baseia na convicção assumida de que para escrever um romance basta ter uma ideia da vida e não uma ideia de literatura.» (Eduardo Prado Coelho)
Eu realmente nunca tinha encontrado uma explicação tão óbvia para este fenómeno literário. O óbvio é o mais difícil de encontrar.
As perguntas (retóricas, porque ninguém lê estas merdas) são:
Literatura é Arte? Sim.
A Arte baseia-se na vida? Se sim, então esses romances de vida são Arte.
[Ou será a vida que se baseia na Arte?]
- Não será a verdadeira literatura (e o calcanhar de Aquiles dessas feminae) escrever a vida com um profundo gosto literário e estético, e por consequência, pela Arte?
Dei o nó.
«O supremo vício é a vulgaridade.»
Oscar Wilde
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Enciclopédia Universal II
Numa aula de Linguística Espanhola com a Gayoso das 20 às 22 horas, uma pessoa tem realmente que aliviar a pressão depois de todo um dia que começou às 9 da manhã e que implicou subir as Monumentais 4 vezes.
Por supuesto.
Estava eu numa maravilhosa intervenção acerca das obrigações de um linguista, quando, para a Senhora Professora do Dom da Oratória, disse:
- Eres normal.
E ela (parece que a estou a ver):
- Yo soy, ?y tú?
E eu, envergonhadamente, corrigi:
- Es normal.
Por supuesto.
Estava eu numa maravilhosa intervenção acerca das obrigações de um linguista, quando, para a Senhora Professora do Dom da Oratória, disse:
- Eres normal.
E ela (parece que a estou a ver):
- Yo soy, ?y tú?
E eu, envergonhadamente, corrigi:
- Es normal.
Caeiro, o egoistazinho
( [...]
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu - não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)
XXXII, Alberto Caeiro
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu - não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)
XXXII, Alberto Caeiro
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
'A cena do Ódio'
«Jamais eu quereria vir a ser um dia
o que o maior de todos já o tivesse sido
eu quero sempre muito mais
e mais ainda muito pr'além-demais-Infinito...
Tu não sabes, meu bruto, que nós vivemos tão pouco
que ficamos sempre a meio-caminho do Desejo?»
Almada Negreiros
o que o maior de todos já o tivesse sido
eu quero sempre muito mais
e mais ainda muito pr'além-demais-Infinito...
Tu não sabes, meu bruto, que nós vivemos tão pouco
que ficamos sempre a meio-caminho do Desejo?»
Almada Negreiros
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Esta semana fui jantar a casa da Joana e acho que foi por causa das moelas que me lembrei daquilo que neste post vou contar.
Voltas que dei ou que não dei, o que é certo é que dei por mim a pensar na morcela de que não gosto. Sempre que na minha casa a refeição mete enchidos (sem ser chouriço, fon fon fon fon) eu nunca como nada disso. E a minha mãe, sempre muito esmagadora, para mim:
- Só gostas de morcela quando há pouca.
Moral da história: vamos concordar com o Oscar quando ele, génio, conclui:
- 'Há muitas coisas que nós atiraríamos fora, se não fosse o medo de que os outros as apanhassem.'
Voltas que dei ou que não dei, o que é certo é que dei por mim a pensar na morcela de que não gosto. Sempre que na minha casa a refeição mete enchidos (sem ser chouriço, fon fon fon fon) eu nunca como nada disso. E a minha mãe, sempre muito esmagadora, para mim:
- Só gostas de morcela quando há pouca.
Moral da história: vamos concordar com o Oscar quando ele, génio, conclui:
- 'Há muitas coisas que nós atiraríamos fora, se não fosse o medo de que os outros as apanhassem.'
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
«Ó Mila, mil e uma noites de amor com você.»
Primeiro, claro, o alcance fónico de 'Mila' e 'mil' é qualquer coisa que literariamente não pode ser negligenciada. Que conjugação sensacional de sons. Ninguém me tira da cabeça que o autor da bonita letra estava a pensar em leite quando escreveu este verso. Mil(k)... Extraordinária esta minha intuição. Depois claro, daqui só me vem à ideia que o homem apaixonado era um bicho garanhão: MIL E UMA NOITES DE AMOR? mas quê, sem parar? Assim zumba zumba zumba?... FUCK'IN NIGHT, Netinho. E por falar nisso, se é netinho parece que é novo, nem que seja só aos olhos da avó... Como é, não tens vergonha de cantar isso, sujeito ao desgosto da família?
Mila, tu não vais aguentar.
Mila, tu não vais aguentar.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Admirável Mundo Novo
Hoje começaram as aulas do segundo semestre e era mesmo disto que estava a precisar.
Depois de um mês inteiro a engonhar com o sexo em Camões, há coisas que só se resolvem com horários.
Já não tremo como no primeiro dia da primária, também já não reencontro os meus namorados todos futebolistas, nem escrevo cartas de amor manhosas com quadradinhos de Sim, Não ou Talvez.
Mas de qualquer maneira há coisas que só se resolvem com horários.
Hoje saíram os resultados dos programas de Erasmus e vou para Salamanca.
Depois de um mês inteiro a mentalizar-me que ia para Madrid e a desejar com a ideia, soube que afinal iria ficar tão perto.
Já não temo andar sozinha pelas ruas da capital, também já não tenho medo da saudade.
Porque soube que
- Afinal vou ficar demasiado perto.
Depois de um mês inteiro a engonhar com o sexo em Camões, há coisas que só se resolvem com horários.
Já não tremo como no primeiro dia da primária, também já não reencontro os meus namorados todos futebolistas, nem escrevo cartas de amor manhosas com quadradinhos de Sim, Não ou Talvez.
Mas de qualquer maneira há coisas que só se resolvem com horários.
Hoje saíram os resultados dos programas de Erasmus e vou para Salamanca.
Depois de um mês inteiro a mentalizar-me que ia para Madrid e a desejar com a ideia, soube que afinal iria ficar tão perto.
Já não temo andar sozinha pelas ruas da capital, também já não tenho medo da saudade.
Porque soube que
- Afinal vou ficar demasiado perto.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
do what you gotta do
Este tratamento a que vou estar submetida durante seis meses da minha vida
- Vai secar-lhe muito a pele, não pode apanhar sol e não pode engravidar no espaço de um ano
- E beber, Senhor Doutor?
- Beber como? Não pode ser todos os dias desenfreadamente mas um fino ou dois de vez em quando não há problema.
Não há problema diz ele. Estes comprimidinhos secam-me tudo: por dentro e por fora.
O nariz como exemplo.
Uma sinédoque fraquinha.
Se fosse escritora era diferente.
Inês não serve para nome. Não tem carisma.
A Inês não se veste para arrasar.
Eu. Ego.
Tu. Alter ego.
- Vai secar-lhe muito a pele, não pode apanhar sol e não pode engravidar no espaço de um ano
- E beber, Senhor Doutor?
- Beber como? Não pode ser todos os dias desenfreadamente mas um fino ou dois de vez em quando não há problema.
Não há problema diz ele. Estes comprimidinhos secam-me tudo: por dentro e por fora.
O nariz como exemplo.
Uma sinédoque fraquinha.
Se fosse escritora era diferente.
Inês não serve para nome. Não tem carisma.
A Inês não se veste para arrasar.
Eu. Ego.
Tu. Alter ego.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Um homem quer-se astuto
Já me tinha esquecido do problema da falta de imaginação. Mas como estou cheia de sono e farta de escrever, vou só acrescentar esta frase de Pater para mandar achas para a fogueira:
«O erro é criar hábitos».
É de dia outra vez. Talvez o dia mais importante de todo o calendário. É extraordinário o poder que um 14 de Fevereiro pode ter nas nossas vidas. Eu acho que só é comparável a um médico de doentes em fase terminal. A quantidade de relações que na data presente, ano a após ano, são salvas pelo Senhor Valentim... Eu não sei, mas desde floristas, a perfumarias e tantas mais lojas de conveniência feminina, ou melhor, masculina (porque é a eles que hoje lhes convém que existam), há um wonderful world para descobrir.
«O erro é criar hábitos».
É de dia outra vez. Talvez o dia mais importante de todo o calendário. É extraordinário o poder que um 14 de Fevereiro pode ter nas nossas vidas. Eu acho que só é comparável a um médico de doentes em fase terminal. A quantidade de relações que na data presente, ano a após ano, são salvas pelo Senhor Valentim... Eu não sei, mas desde floristas, a perfumarias e tantas mais lojas de conveniência feminina, ou melhor, masculina (porque é a eles que hoje lhes convém que existam), há um wonderful world para descobrir.
- O resto do ano, bebé, escusas de te preocupar comigo. Eu sei que o tempo não chega para tudo e chegares a casa sem me dar um beijo não interessa para nada. Mas hoje, pelo menos hoje, homem de deus, leva-me a dar uma voltinha ao jardim zoológico, MONKEY MAN.
A mulher ouve o que quer ouvir, o homem sente-se mais romântico do que o Júlio Iglesias e o melhor é que à noite, se chegar até lá, a mulherzinha de pernas abertas vai gemer:
- Amo-te.
enquanto ele pensa:
- Se for preciso compro-te flores todos os dias, minha riqueza.
ABRE-TE SÉSAMO.
O minuto certo
Dizia-te do minuto certo. Do minuto certo do amor. Dizia-te que queria olhar para os teus olhos e ter a certeza que pensavas em mim. Que me pensavas por dentro. Que eu era a tua fantasia, o teu banco de trás. O teu desconforto de calças caídas, de pernas caídas, da rua que não estava fechada porque nenhuma rua se fecha para o amor.
Na cidade do meu sono, havia palmeiras onde alguns repetiam charros e putas e atiravam pedras ao rio. Mas eu nunca gostei de clichés. Nem de quartos de hotel. Nem de camas que não conheço. Eu nunca abri as pernas, entendes? Nunca abri as pernas no liceu. Nunca abri as pernas aos dezassete anos, de cigarro na mão. Eu nunca me comovi com o sonho de ser tua. Eu nunca quis que ficasses, entendes? Que viesses. Queria que quisesses de mim esse minuto certo, essa rua húmida de ser norte. Queria que me quisesses certa, exacta, como o minuto onde me pudesses encontrar. Eu nunca quis de ti uma continuidade, mas um alívio, uma noção de ser gente, entendes? Eu nunca quis de ti o sonho do sono ou da viagem. Nunca te pedi o pequeno-almoço, a ternura. Nunca te disse que me abraçasses por trás, que adormecesses. Eu nunca quis que me desses casa e filhos e lógica. Que me convidasses para dançar. Queria os teus olhos a fecharem-se comigo por dentro e tu por dentro de mim.
Queria de ti um minuto. Um minuto.
Filipa Leal
Na cidade do meu sono, havia palmeiras onde alguns repetiam charros e putas e atiravam pedras ao rio. Mas eu nunca gostei de clichés. Nem de quartos de hotel. Nem de camas que não conheço. Eu nunca abri as pernas, entendes? Nunca abri as pernas no liceu. Nunca abri as pernas aos dezassete anos, de cigarro na mão. Eu nunca me comovi com o sonho de ser tua. Eu nunca quis que ficasses, entendes? Que viesses. Queria que quisesses de mim esse minuto certo, essa rua húmida de ser norte. Queria que me quisesses certa, exacta, como o minuto onde me pudesses encontrar. Eu nunca quis de ti uma continuidade, mas um alívio, uma noção de ser gente, entendes? Eu nunca quis de ti o sonho do sono ou da viagem. Nunca te pedi o pequeno-almoço, a ternura. Nunca te disse que me abraçasses por trás, que adormecesses. Eu nunca quis que me desses casa e filhos e lógica. Que me convidasses para dançar. Queria os teus olhos a fecharem-se comigo por dentro e tu por dentro de mim.
Queria de ti um minuto. Um minuto.
Filipa Leal
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
a puta que me pariu era a mais linda da rua formosa
eu saí a ela deve ser por isso que mal sorrio os homens
perguntam
quanto é
e eu não é nada a puta que me pariu pôs-me a estudar e
eu agora
só sorrio e é tudo de graça
e a seguir mostro-lhes o rabo e a seguir as pernas e
ponho-me a andar
deixo-os de corpo a abarrotar
de tralha
Reconhecimento, Bénédicte Houart
eu saí a ela deve ser por isso que mal sorrio os homens
perguntam
quanto é
e eu não é nada a puta que me pariu pôs-me a estudar e
eu agora
só sorrio e é tudo de graça
e a seguir mostro-lhes o rabo e a seguir as pernas e
ponho-me a andar
deixo-os de corpo a abarrotar
de tralha
Reconhecimento, Bénédicte Houart
Para o meu amante de regresso à sua mulher
Ela é tão nua e singular.
Ela é a soma de ti e do teu sonho.
Escala-a como um monumento, passo a passo.
Ela é sólida.
Quanto a mim, sou uma aguarela.
Diluo-me.
Ann Sexton
Ela é a soma de ti e do teu sonho.
Escala-a como um monumento, passo a passo.
Ela é sólida.
Quanto a mim, sou uma aguarela.
Diluo-me.
Ann Sexton
Não me importa nada
«Eu, pelo menos, sou incapaz de compreender a sedução de uma mulher pedestre, e por mais empenho que ponha em concebê-lo, não me é possível nem tão pouco imaginar que possa fazer-se amor sem ser voando.»
Oliverio Girondo
Oliverio Girondo
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
reclamação e aviso
Todo o dia o meu corpo adormeceu.
Primeiro foi um braço que deixou cair o garfo, ou a faca.
Depois senti uma perna cheia de agulhas lá dentro.
[...]
Agora, que já é noite, vou deitar-te na minha cama porque todo o meu corpo já dormiu.
Primeiro foi um braço que deixou cair o garfo, ou a faca.
Depois senti uma perna cheia de agulhas lá dentro.
[...]
Agora, que já é noite, vou deitar-te na minha cama porque todo o meu corpo já dormiu.
Pai, quero um aquário com peixes vermelhos
Chega-te mais. Sei que parece
não caber um grão entre nós
e o calor que me dás cura-me
de muitos males. Mas a tua pele
é também um escudo impenetrável
e os teus ouvidos estão voltados
para dentro, mas não ouves
as mensagens que te atravessam,
não escutas nenhum de nós.
Não sei por que estamos aqui
colados um ao outro. É verdade
que está frio, um frio que se repete
todos os dias como se fôssemos peixes
de aquário e se tivessem esquecido
de mudar a água. Andamos às voltas
no vidro redondo, vamos ficando míopes
e sujando a água. Estamos juntos
e juntos damos a volta ao circo.
Há uns quantos que nos aplaudem,
mas acho que têm tanto medo como nós.
Da alma e dos espíritos animais,
Rosa Alice Branco
não caber um grão entre nós
e o calor que me dás cura-me
de muitos males. Mas a tua pele
é também um escudo impenetrável
e os teus ouvidos estão voltados
para dentro, mas não ouves
as mensagens que te atravessam,
não escutas nenhum de nós.
Não sei por que estamos aqui
colados um ao outro. É verdade
que está frio, um frio que se repete
todos os dias como se fôssemos peixes
de aquário e se tivessem esquecido
de mudar a água. Andamos às voltas
no vidro redondo, vamos ficando míopes
e sujando a água. Estamos juntos
e juntos damos a volta ao circo.
Há uns quantos que nos aplaudem,
mas acho que têm tanto medo como nós.
Da alma e dos espíritos animais,
Rosa Alice Branco
Cratera do Início
«Bastava um dia
para construíres o mundo,
mas saíste da costela do homem
e a seu lado sempre te afundas.»
A raiz afectuosa, António Osório
para construíres o mundo,
mas saíste da costela do homem
e a seu lado sempre te afundas.»
A raiz afectuosa, António Osório
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Banda desdenhada
- Apetece-me borratar um bocado tudo isto. «As mulheres têm fios desligados» foi o Lobo Antunes que escreveu.
- Nem percebo, Inês.
- É que já tinha esta frase entalada há muito tempo, uma tormenta que queria usá-la e não sabia como.
- E agora, estás melhor?
- Acho que sim, mas tenho ainda outras.
- Tormentas ou frases?
- «Uma feridinha de cacaracá».
- Nem percebo, Inês.
- É que já tinha esta frase entalada há muito tempo, uma tormenta que queria usá-la e não sabia como.
- E agora, estás melhor?
- Acho que sim, mas tenho ainda outras.
- Tormentas ou frases?
- «Uma feridinha de cacaracá».
7
Casou este esfaimado com uma velha rica:
e a mulher o sustenta, para que ele a fornique.
Marcial, séc. I-II
e a mulher o sustenta, para que ele a fornique.
Marcial, séc. I-II
[Das Mulheres]
São pior's do que eu possa dizer:
no buraco só querem meter
quem capaz se mostrar de as encher.
Não se 'scute por Deus nenhum rogo
dos que queiram honrar e servir
essas putas de peitos em fogo!
Marcabru, séc. XII
no buraco só querem meter
quem capaz se mostrar de as encher.
Não se 'scute por Deus nenhum rogo
dos que queiram honrar e servir
essas putas de peitos em fogo!
Marcabru, séc. XII
Pedro, lembrando Inês
Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?" Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passamos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.
Pedro, lembrando Inês, Nuno Júdice
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?" Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passamos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.
Pedro, lembrando Inês, Nuno Júdice
sábado, 6 de fevereiro de 2010
de profundis amamus
Ontem
às onze
fumaste um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria
Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros
Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso
Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso
Pena Capital, Mário Cesariny
às onze
fumaste um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria
Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros
Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso
Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso
Pena Capital, Mário Cesariny
Subscrever:
Mensagens (Atom)