segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Pai, quero um aquário com peixes vermelhos

Chega-te mais. Sei que parece
não caber um grão entre nós
e o calor que me dás cura-me
de muitos males. Mas a tua pele
é também um escudo impenetrável
e os teus ouvidos estão voltados
para dentro, mas não ouves
as mensagens que te atravessam,
não escutas nenhum de nós.
Não sei por que estamos aqui
colados um ao outro. É verdade
que está frio, um frio que se repete
todos os dias como se fôssemos peixes
de aquário e se tivessem esquecido
de mudar a água. Andamos às voltas
no vidro redondo, vamos ficando míopes
e sujando a água. Estamos juntos
e juntos damos a volta ao circo.
Há uns quantos que nos aplaudem,
mas acho que têm tanto medo como nós.

Da alma e dos espíritos animais,
Rosa Alice Branco

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